O DIA EM QUE PAPAI NOEL CHOROU...
Eram mais ou menos vinte e duas horas quando eu acabara de participar de uma confraternização numa véspera de natal, onde pude ter o privilégio de ser uma vez mais o Papai Noel e fizera assim a alegria da garotada que lotou um imenso salão decorado com muitas lâmpadas coloridas e outros enfeites natalinos.
Vivera eu, momentos de intensa alegria e estava ainda um tanto inebriado pelas músicas alusivas à data e pela magia de poder levar encantamento a todas as crianças presentes naquele evento, abraçando-as e fazendo com que os seus pequeninos corações batessem descompassados ao receberem os almejados presentes das mãos do lendário e bondoso velhinho.
Foram momentos de intenso prazer, os quais, repletos de grandes emoções, porém, como num conto de fadas o encanto da magia se desfez..., a festa acabou-se, todos foram para as suas casas e as luzes se apagaram, pois o salão estava sendo fechado...
Eu havia cumprido parte da minha missão e já me preparava para ir a outro local, onde outras crianças também aguardavam ansiosas pela presença do Papai Noel, mas quando me dirigia ao portão principal, vi um homem que trajava roupas humildes, calçando apenas chinelos e cujos cabelos eram tão grisalhos quanto os meus.
O pobre homem ocupava um dos bancos do pequeno jardim, onde quieto e cabisbaixo demonstrava estar sentindo uma enorme e infinda tristeza, pois seu semblante sofrido fazia com que ele aparentasse ser bem mais velho do que realmente era.
Aproximei-me, abracei-o e desejei-lhe um feliz natal, não apenas por ser eu um Papai Noel, porém, muito mais pelo fato de ser também um cristão e acreditar que a solidariedade e a fraternidade são as essências do verdadeiro espírito natalino, mas ao fazê-lo notei que duas lágrimas rolaram pelo seu rosto já marcado por algumas rugas.
Sentei-me ao seu lado e perguntei-lhe o motivo daquela tristeza, afinal aquela era uma noite de festa!
Ele fitou-me com os olhos ainda marejados de lágrimas e com a voz entrecortada por soluços me disse:
- Senhor, durante muitos anos eu também pude fazer a alegria de inúmeras crianças, dentre as quais, os meus próprios filhos e conseguia isso exatamente quando eu me vestia de Papai Noel representando a empresa em que eu trabalhava, e em noites como esta, era eu o encarregado de exercer a belíssima tarefa de distribuir os presentes arrecadados para tal finalidade.
Ele fez uma breve pausa e continuou o seu desabafo:
– Hoje, no entanto, ao ver daqui de fora a festa que aí dentro aconteceu pude sentir uma imensa saudade daqueles tempos; saudade esta, que veio acompanhada de uma mágoa profunda, porque por ironia do destino sou mais um desempregado, não posso ser mais aquele Papai Noel bem sucedido de outrora, pois estou com as mãos vazias e impedido de levar alguma coisa até para os meus filhos e minha esposa que me esperam em casa, onde nada temos para comer neste natal.
Súbita emoção..., não me contive..., abracei-o novamente e desta vez fui eu quem molhou o seu ombro com as lágrimas que não consegui evitar!
Foi um longo abraço, choramos juntos, pois ficamos incapazes de pronunciar ar qualquer palavra..., um instante mágico e inesquecível..., uma experiência inédita e incomparável.
Ali estava eu, diante de um homem de meia idade, cujo sofrimento o transformara num verdadeiro farrapo humano, um homem verdadeiramente sofrido, que era naquele instante o espelho de um passado belíssimo, mas refletindo a dura realidade do presente, afinal ele também era mais uma vítima desta grande mazela desse Brasil, a miséria causada pelo fantasma do desemprego e pelas injustiças sociais.
Deus estava sendo uma vez mais muito generoso para comigo, alertando-me através desta estranha coincidência, pois sendo eu um Papai Noel aclamado por inúmeras crianças, provara ali junto àquele homem de um gole da sua taça de amargura, através de um brinde diferente, que me permitia aprender uma grande lição de vida.
Um brinde que me ensinava a valorizar o meu emprego e também agradecer sempre ao Pai Celestial pela dádiva de ter uma família e um lar, onde nunca faltou o sagrado pão de cada dia e de ainda poder presentear os meus filhos numa noite de natal.
Esta é uma história tão real como é a vida..., fantástica como o sonho, sublime como a fantasia e tão pura quanto a inocência de muitos pequeninos que ainda têm esperanças, mesmo não tendo eles nem sequer sapatinhos para colocarem atrás das portas, na tentativa de atrair a presença do mágico e lendário bom velhinho de roupas vermelhas e barbas brancas que se chama Papai Noel e que infelizmente só existe para poucos.
Autor: Mauro Máximo da Silva
Conto vencedor do Mapa Cultural Paulista 2006 (local) e inscrito no Talentos da
Maturidade de 2009.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
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